A produção de vídeos amadores que ambicionam um lugar ao sol no mainstream vem fazendo cada vez mais barulho. Eliana dedica um quadro de seu programa no SBT ao assunto. “Famosos da internet” abre espaço para aqueles que usam só recursos caseiros.
Um caso interessante foi o de Dheymerson, de 11 anos, que virou celebridade no YouTube com “O pintinho piu”. Nascido em Russas, no Ceará, ele contou como produziu seu vídeo: “Botei uma câmera em cima da garrafa de café e fiz. Sozinho”. O clipe teve 16 milhões de cliques. Russas tem 70 mil habitantes. Esse abismo entre os dois números dá a medida da distância entre uma cidadezinha e a estrada para o mundo que é a internet.
Essa distância também fica exposta no uso de expressões regionais. Na canção, Dheymerson menciona um tal de “capote”. Eliana não sabia do que se tratava e recebeu a explicação do menino: é como chamam a galinha d’angola no lugar onde ele vive. Quem também sabe tudo sobre fazer a festa com bons personagens é o “Pânico”. Com o empurrãozinho do programa, “Para nossa alegria”, um vídeo divertido por ser a própria expressão concreta da tosquice, é um sucesso total no YouTube. Seus protagonistas, Jefferson e Suellen, também foram à Eliana (e Dheymerson, do Pintinho Piu, também ao Ratinho).
Porém, a fama no YouTube não garante o sucesso duradouro nem significa que talentos escondidos estejam sendo revelados. Dheymerson gravou novos clipes, perdeu o ar de garoto bonachão e já aparece com o cabelo pintado e armado com gel. Mas nem de longe repetiu a performance. O mesmo aconteceu com a dupla Jefferson e Suellen: ambos já gravaram um clipe, com uma nova música, numa produção bem mais profissional. Mas poucas pessoas conseguem rir do que veem.
Certamente há quem use a internet para se lançar no mundo artístico, mas a maior parte desses sucessos relâmpagos se deve a isso: traduz apenas um minuto de inspiração, um momento feliz como uma piada que alguém conta com graça inusitada a um grupo de amigos. A piada, antes, se perderia. Hoje, graças ao YouTube, é vista por milhões. Mas isso não quer dizer que o seu contador seja ou venha a se tornar um humorista. É a prova de que Andy Warhol tinha razão: o futuro em que todos teríamos 15 minutos de fama já chegou.
Patrícia Kogut (Controle Remoto - O Globo)
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